Centenário da Liga Sergipense contra o Analfabetismo

Clotildes Farias de Sousa
Doutoranda em Educação – Universidade Federal de Sergipe
Orientanda do Prof. Dr. Dilton Maynard
E-mail: clotildesfs@gmail.com

Há cem anos surgiu em Aracaju a Liga Sergipense contra o Analfabetismo (LSCA), uma associação composta por autoridades políticas e intelectuais que se dispuseram a expandir as letras e o amor a Pátria. A associação foi fundada no dia 24 de setembro de 1916, em sessão do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE). Contou com o apoio do Presidente do Estado, Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão, bem como dos seguintes sócios-fundadores: Alcebíades Correa Paes, Adolpho Ávila Lima, Ítala Silva de Oliveira, Florentino Menezes, José da Silva Ribeiro, Evangelino de Faro, Edgar Coelho, Possidônio P. da Rocha, Manuel Cândido dos Santos Pereira.
Sincronizada com os acontecimentos dos principais centros urbanos do país, a campanha estadual seguiu o exemplo da Liga Brasileira contra o Analfabetismo (LBCA). Essa associação foi fundada, por sua vez, no Clube Militar do Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1915, por membros das forças armadas, do direito, das letras e medicina, dentre eles, o poeta Olavo Bilac. A principal meta da LBCA foi livrar o país do analfabetismo até o ano do primeiro Centenário da Independência do Brasil (1922).
Em Sergipe, a ideia da criação de uma liga contra o analfabetismo já circulava desde o ano de 1915. Itala Silva de Oliveira foi quem primeiro se manifestou a respeito e criticou a demora da adesão estadual ao movimento nacional pró-educação elementar. Incomodada com a baixa escolaridade dos sergipanos, ela produziu uma série de artigos que publicou na imprensa local e nacional, com denúncias acerca da vergonha que o analfabetismo impunha ao país. Parecia-lhe um vexame sem tamanho a morosidade com que os seus conterrâneos tratavam a questão, considerando o fato de Sergipe contar apenas 17% da população escolarizada.
Para a oficialização da LSCA concorreu o 5º Congresso Brasileiro de Geografia, realizado em Salvador em 1915. No certame foi aventada a necessidade de criação das ligas estaduais contra o analfabetismo e o geógrafo Theodoro Sampaio, na qualidade de presidente do certame, lançou um desafio aos intelectuais presentes: extinguir o analfabetismo até a data do primeiro Centenário da Independência do Brasil. O advogado José da Costa Filho, representante de Sergipe na ocasião, ao retornar a Aracaju, defendeu a proposta e declarou fundada a campanha sergipana.
A primeira medida efetiva em prol do funcionamento da LSCA foi a criação de uma escola noturna feminina por iniciativa de Thales Ferraz. Diretor-gerente da fábrica Sergipe Industrial e renomado filantropo de Sergipe, ele atendeu ao pedido de Ítala Silva de Oliveira para dar impulso a longa campanha educacional. Foram criadas trinta e oito escolas até 1950, mantidas com recursos próprios, subvenções públicas e particulares, especialmente doadas por entidades como estas: Academia Sergipana de Letras, Cruz Vermelha de Aracaju, Centro Cívico Amynthas Jorge, Clube Esperanto, Loja Maçônica Cotinguiba e Rotary Club de Aracaju.
A LSCA contou com forte apoio do Almirante Amynthas José Jorge. Esse militar reformado assumiu a presidência da instituição entre os anos de 1917 e 1939, levando adiante o projeto de escolarização. Diante do inevitável afastamento que a idade avançada lhe impôs, ele confiou a Loja Maçônica Cotinguiba os cuidados com a campanha pela afinidade dos ideais patrióticos das duas instituições.
Em Sergipe, a maçonaria apoiou a campanha contra o analfabetismo por décadas e deu continuidade ao ideal de escolarização e difusão do patriotismo. Em 1917, a Loja Maçônica Cotinguiba já era sócia benemérita; mais tarde, em 1941, passou a ser a principal mantedora. Lívio Pereira da Silva tornou-se presidente da LSCA em 1939, antecipando a implantação de um novo projeto maçônico de escolarização, caracterizado pela ênfase no ensino profissionalizante. Ainda em 1984 havia uma escola de alfabetização em Aracaju. Em 2004 a última escola existente na capital oferecia os cursos de datilografia e corte e costura. Se houve mudanças nas formas de atuação, os ideais patrióticos da campanha persistiram.
A história da LSCA traz um forte apelo aos brasileiros do passado, no sentido de honrar a pátria, com ações efetivas em prol do bem comum. Ao presente, lança questões, pois diz respeito às possibilidades dos indivíduos se organizarem em prol da melhoria de vida, sem esperar da ação governamental, apenas, as soluções para os problemas sociais. Quiçá, os homens e mulheres de hoje que ainda se veem incomodados com a situação educacional do país possam se inspirar nessa história!

Para saber mais, leia:

SOUSA, Clotildes Farias. Liga Sergipense contra o Analfabetismo. Aracaju: SEGRASE, 2016 (no prelo).

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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