Acompanho apreensiva as notícias sobre o projeto da Prefeitura Municipal de Aracaju de construir mais calçadões, desta vez, na Rua Santa Rosa e Beco dos Cocos. Como estudiosa do assunto e arquiteta urbanista responsável pelo Projeto de Restauração do Mercado Municipal de Aracaju gostaria de lembrar os mais de dez anos de empenho e esforço dos comerciantes, feirantes, entidades e associações para remover aquela imensa favela que obstruía ruas e calçadas do nosso centro histórico. Sem falar na imensa quantidade dos recursos públicos, ali, investidos. E era justamente a Santa Rosa a rua mais prejudicada pela expansão desenfreada do mercado, pois invadida por feirantes e camelôs de todos os tipos teve, por muitos anos, seu leito ocupado e a circulação de veículos impedida. Foram anos sem que os comerciantes pudessem ver as fachadas das suas lojas que fecharam as portas, o preço dos imóveis despencaram e o comércio formal acabou banido só reabrindo, muito tempo depois, com a desocupação da rua. Convém também lembrar que a ocupação era progressiva pois toda vez que se limpava o Calçadão da João Pessoa os camelôs eram despachados para a Santa Rosa. O que fatalmente voltará a ocorrer com a construção de um calçadão numa área considerada menos “nobre” nessa estranha e ilógica hierarquia urbana. Da remoção dos feirantes da rua, na época, comparada a violenta guerra de Kosovo, espero que todos lembrem, no mínimo as autoridades e funcionários da PMA envolvidos no processo e, se esqueceram, que relembrem com urgência. Um dos resultados mais positivos da remoção foi, justamente, a liberação da rua aos veículos e da sua visual arquitetônica. E um dos elogios mais gratificantes que recebíamos com freqüência , sobretudo dos mais jovens, era o prazer de redescobrir uma rua. Muitos relatavam encantados que em trinta anos de vida jamais haviam visto os prédios da Rua Sta Rosa ou nem sabiam da sua existência. Aracaju reencontrava a sua história. Em meio a tanto entusiasmo os imóveis se valorizaram, o comércio formal refloresceu rapidamente e a rua consolidou-se como uma das mais movimentadas e prósperas da região. Além disso a Rua Sta Rosa tem, hoje, papel relevante na circulação do Centro pois auxilia o, já complexo, escoamento pela Divina Pastora agravado com a construção do Calçadão da São Cristóvão; e o Beco dos Cocos funciona como área de carga e descarga das lojas da Av. Otoniel d’Órea. Não entendo também como, ainda hoje, com o enorme problema de circulação de veículos nas cidades ainda se proponham fechar ruas. Na verdade precisamos de mais áreas de circulação. Os calçadões são modelos urbanos da década de 70, pré shopings, que a meu ver muito contribuíram para o deslocamento do comércio dos centros para áreas com mais flexibilidade de estacionamento. As cidades européias adotaram uma solução muito mais inteligente para o caso: a correntinha. No dia a dia a rua é dos carros e a calçada dos pedestres e quando necessário fecha-se a rua para os pedestres. É lamentável que nossa memória seja tão curta. Deveríamos aprender com o passado, afinal a história existe para isso. E pensar que isso tudo aconteceu há apenas dez anos.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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