De vez em quando, e por estar atoa na vida, eu costumo ler alguns comentários de artigos que visito.
Percorrê-los, mais das vezes, me decepciona, sobretudo aqueles que, acovardados, se homiziam num anonimato emburrecido.
A decepção não vem do conteúdo, afinal anima-me sobremodo, ampliar os meus conceitos, reformá-los mais das vezes, pois vem de longe e é bem maior; a minha dúvida! Quem não as tem?
Não é assim que se diz: que só a dúvida fertiliza?
Não se diz também que neste contexto de imperfeição continuada, só a Matemática é vera ciência exata, por soberana?
Ali não se diz, que qualquer teorema nela bem-posto, melhor provado e demonstrado, desmorona qual castelo de cartas, falecendo para sempre, por inservível; bastando para isso somente um único contraexemplo solteiro, por arteiro e mal vezeiro, e pior exposto no caminho?
– Ah!, mas a demonstração foi hígida, elegante, vigeu por muitos séculos!
– E daí? Não importa! Virou poeira, fulminada por tal golpe singular e letal inesperado, porque não valendo para um, unzinho somente, deixou de valer para tudo e para todos.
E por fim irá restar condenado a ser esquecido, inumado na vala comum e vã, do que se fez inútil por inservível.
Não é isso que o viver a tudo impõe, os cadáveres sendo rapidamente sepultados, debaixo de muitos palmos de terra, mesmo os mais amados e benquistos, para não virar fogo fátuo, esta assombração inesperada, por exalo insuportável, muitas vezes; de fosfina ?
Fosfina, para quem não sabe, é um gás incolor, altamente inflamável de fórmula PH3, resultante da decomposição nossa, terminal, enquanto cadáver perecível, quando um dia nos vier faltar e escapar o élan vital, aquilo que nos anima o sonho, atiça o estro e o desejo do nosso próprio existir, a resistir, e quem o sabe!, e a subsistir, e por que não pensar assim?; possuir uma alma imortal ainda; e a prosseguir?!
Todavia, fora das especulações comuns, dos desejos vãos, simuns, e das frustrações perenes, quanto ao improvável, mas por demais; desejável!, a Química nos resgata ao aterramento necessário, dizendo que a Fosfina é um gás real cujo odor é insuportável.
É também um gás altamente inflamável, queimando fantasmagoricamente em tons violáceos e fluorescentes, nos assim chamados fogos-fátuos, presentes nas superfícies de algumas catacumbas, para o lavre de estórias reais, e muitas outras mal descritas por irreais, servindo como matéria fértil; de bons ou maus; roteiros e narrativas de filmes de terror.
Porque a morte, por se só insinua o terror, o medo, a paúra…, palavra italiana que melhor o descreve, com alguma candura, afinal o desconhecido sem doçura, sempre enseja tal receio, por supremo horror.
E que ninguém se diga ser avesso ao medo, embora uma dia o dissesse o grande Presidente Juscelino Kubitscheck, numa frase que se perpetuou além do seu existir: “Deus me poupou o sentimento do medo!”
Desta frase, leio-a na internet, afirmam ter sido gestada em quatro mãos pelo poeta Augusto Frederico Schmidt, reunido com o político, Tancredo de Almeida Neves, futuro Presidente também, que juntos subsidiaram um discurso de JK num pronunciamento que se tornou famoso ao repelir um veto por rebelião militar, que não o desejava postulante à Presidência da República nos idos de 1954.
Se JK teve naquele momento um ghostwriter, ou dois conjuminados, isso nada importa.
O que importa não é quem redigiu, teve a ideia, porque esta morreu no papel, e a este cabe tudo, até a rasura.
O que importa no além da lavratura, é quem a verberou e com ela colheu o bene ou o dano da expressão.
Porque é muito fácil tirar dos outros o veio e o estro…
E já que enveredamos no que seja verdade ou versão, sobretudo agora com os inusitados julgamentos em que se desnuda, a conta-gotas mitridático, o nosso Supremo Tribunal, envenenando a nação, voltemos muito atrás, ao silêncio de Jesus o Cristo interrogado por Pilatos, o então Governador da Judeia, o imaculado representante do “Divino Imperador, Tibério César”.
Dos Evangelhos, relata João, por resposta de Jesus, perante Pilatos, sobre a Sua, dEle, Jesus, majestade, enquanto Rei: “Para isto nasci, e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade , escuta a minha voz.”
“Que é a verdade? – Perguntou Pilatos sem obter resposta. E nós também, assim ficamos… E sem lavar as mãos!
Qual é a verdade afinal?
E o tema me vem na mesma senda, porque no meu “atoa da vida”, li um tolo comentário, justo de um anônimo fogo-fátuo visitante das benfazejas redes sociais, como assim as vejo, por benéficas e nunca, jamais, maldosas e assaz perigosas, em sua natureza e excelência; a merecerem ser urgentemente banidas e cerceadas, por qualquer Supremo Tribunal Federal, ou por tantos outros Santos Ofícios Hodiernos, colocados “de plantão”, por estafermo, ou contubérnio sobrecomum, conjuminado, destinados a punir sempre, a dizer o que tem que ser ou não, e ao proibir para intervir; o que eu abomino, preferindo ler o “fogo-fátuo”, mesmo posando de “fogo-corredor” assustador, que dele extinguir a sua parca luz, na ignorância nossa comum; continuada!
Porque foi em tal estupidez que quiseram incinerar a Galileu, o Galilei, tentando esganar-lhe a ciência e a tecnologia, estas sempre neutras quando criadas e descobertas, mas temidas e odiadas, por sinistras e endiabradas, como assim sopra como fogo-fátuo o que reza oculto.
O que se jaz velado, desconhecido, obscuro ainda, enseja os males infindos em parcas benesses, suscitando os males profundos, sempre ruins e por fins, transbordando ao sabor do desejo comum do humano, enquanto ser menor e micuim, que as maneja, e as quer manipular.
Porque o proibir é sempre a eterna regra, usada contra muitos Girolamos Savonarolas que sempre aborrecem…
E contra tantos aborrecimentos não cauterizava tudo à chama, e na fogueira, até por lição longínqua, mal lida em Provérbios 26:20-22, e escrita bem antes de Jesus, e do seu perdão, afinal: “Sem lenha, a fogueira se apaga; sem o caluniador, morre a contenda. O que o carvão é para as brasas e a lenha é para a fogueira, o briguento é para atiçar discórdias. As palavras do caluniador são como petiscos deliciosos; descem até o mais íntimo do ser”.
E tome-lhes fogueiras!
O que me faz lembrar do Pecado de Adão no Genesis, que bem podia comer a Eva, e nunca, jamais, sua maçã.
O que me faz lembrar também de outras maçãs ajuntadas com o velho grito Sorbonnard dos idos de 1968, lá na França do General Charles De Gaulle, herói de guerra em tempos de paz incomodado, e sendo escorvado e convocado a repousar para sempre no museu definitivamente arquivado, porque até os heróis cansam, quando o combate é outro e o inimigo é próximo: “’Il est interdit d’interdire’, criait la populace étudiante”.
“É proibido proibir!”, gritavam os universitários da Sorbonne, arrancando as pedras das ruas, para jogar nas forças repressoras da ordem, só porque os alunos queriam transitar livremente nos alojamentos de suas namoradas…
E nós outros aqui, enquanto “Chienlit”, do outro lado do Atlântico, cutucando o cão com vara curta, contra o Regime Militar que se abrandava e parecia ruir, com o General Costa e Silva, parecendo um tiozão, acuado pela “Passeata dos Cem Mil”, e tudo virou ao avesso, com a edição do Ato Institucional N° 5, o AI-V, que perdurou com verdadeira cana dura, o pau cantando adoidado, por quase um década e meia, ano que não acabou, mas existiu, e como existiu!, porque muita gente bem partiu e fugiu, como o irmão do Henfil, na canção e no falsete de um rabo de foguete…
É nesse sentido, e por extensão prosseguida, que vejo a história se repetindo com gente gemendo e chorando agora na Papuda e em muitos outros presídios, 898 condenados/processados, pelo “Golpe Intimorato do Batom, do Pipoqueiro, do Sorveteiro, e do Morador de Rua”, arruaceiros do Oito de Janeiro, sendo mais que louvada agora a 1ª Emenda da Constituição Americana, que se fez pétrea no edifício daquela civilização, sem precisar de anistias nem“descondenações”, por coisas só nossas.
No entanto in terra nostra, projeta-se “uma legislação que será exemplo para o mundo, no trato das redes sociais”, em falas do Ministro Gilmar Mendes, que me fazem lembrar, mais uma vez, de Chapolin Colorado, no seu serial Super-herói do SBT, continuamente reprisado: “Não contaram com a minha astúcia”
O que faz lembrar também de Martinho Lutero, ousando traduzir a Bíblia, ó suprema heresia, do Latim para o Alemão, e publicá-la “às mancheias” desde aquela data, usando a prensa tipográfica de Gutemberg.
Ou seja; tenta-se de tudo, em todo tempo, para cercear a liberdade.
Daí surgindo os autores proibidos como Victor Hugo, em Les Miserables e Notre Dame de Paris, sem falar de Émile Zola, e o seu L’Assommoir, e os amplos index a explicitarem os textos a merecer leitura e impressão.
Perquirindo a melhor resposta, mas guardando-a para si, afinal no seu parecer alguém falou soberbamente, como se este o conservasse e contivesse o melhor revide: “Há sempre o legal e o moral”.
E haja moral!; porque aí é que mora o perigo!
Porque nesse contexto do amigo e do inimigo, pondo nos pratos iguais da balança tanto o moral quanto o legal, dizia Nelson Rodrigues, sempre notável: “O amigo sempre trai. Só o inimigo nunca trai. O inimigo vai mijar na sua cova!”
E se por outros aforismos, devemos bem temer o golpe dos amigos, porque dos inimigos sempre bem o sabemos deles nos prevenir; entre o legal e o moral, fiquemos só com o legal, mesmo que tudo pareça funesto, inconsequente e insatisfatório.
E mais: entre o legal e o moral, é melhor que deixemos o moral de lado. Vai que o moral seja amoral!
Deus nos livre do que seja moral! E da sua trena!
Sobre a verdade isso em outra porfia, e morrendo até por ela, disse o Santo e Mártir, Bonifácio de Mogúncia, hoje, 5 de junho, reverenciado por seu dia : “a verdade pode ser contestada mas nunca vencida nem enganada.”
Porque da Verdade, disse Jesus Cristo em outra cena: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!”
Nessa aula porém, Pôncio Pilatos faltou.