(1) Saumíneo da Silva Nascimento
Saumíneo Nascimento (Foto: Janaina Santos) |
Diversos economistas já se propuseram e também se dedicaram ao estudo da teoria do comportamento do consumidor e à interpretação dos dados sobre consumo e renda. Aquele que tenho como referência é John Maynard Keynes. E segundo Keynes, o consumo depende principalmente da renda corrente. Outros economistas entendem que os consumidores sempre estarão diante de uma decisão intertemporal. Isto é, que a decisão de consumir refere-se a decisão de gastar dinheiro agora ou retê-lo para financiar o consumo futuro.
Eu acrescentaria algumas variáveis dos nossos dias atuais, o nível de endividamento com a sua capacidade de honrar os compromissos e a cultura de bom pagador e as inadimplências.
Diante disso, abordarei neste ensaio algumas informações que retratam a situação atual do perfil do endividamento do consumidor de Aracaju, com base em pesquisa realizada pelo Banco do Nordeste do Brasil, que através do seu Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE, em parceria com as entidades que representam o setor Comércio nos Estados do Nordeste brasileiro, divulgou resultados do perfil do endividamento das capitais do Nordeste. A pesquisa do Banco do Nordeste tem como objetivo auxiliar a tomada de decisão dos empresários e instituições financeiras, em relação a avaliação de risco e concessão de crédito. Sobre Aracaju temos diversas informações de relevância para o entendimento da nossa realidade econômica.
Para melhor entendimento das informações que serão apontadas adiante, é importante apresentar as conceituações a que se referem a pesquisa. Portanto, são quatro as taxas de endividamento dos consumidores reveladas na pesquisa, calculadas em relação a cheques pré-datados, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimos pessoais, compra de imóveis, prestações de carro e de seguros, dentre outras formas de endividamento:
Taxa de Consumidores Endividados – percentual de consumidores que possuem dívidas vencidas ou a vencer. Considerando-se a base de referência de outubro/2011, verifica-se que o percentual de consumidores endividados em Aracaju ficou em 47,2%, percentual que declinou em relação a meses anteriores, como maio/e julho/2011, quando o índice chegou a superar 75%, dessa forma, verifica-se que não existe super endividamento das famílias de Aracaju, pois conforme a base de outubro/2011 mais da metade das famílias sergipanas sem endividamento (52,85%). A maioria dos endividados de Aracaju são as mulheres, o percentual é de 57,8%; 61,9% dos endividados de Aracaju está na faixa de idade 25 a 34 anos; também a maioria dos endividados (60,5%) só possuem o ensino fundamental e; a faixa de renda familiar da maioria dos endividados em Aracaju é de 5 salários mínimos. Registre-se que estas mesmas categorias são observadas nos consumidores com dívidas em atraso.
As pessoas assumem dívidas para aquisição de bens e serviços, a exemplo de: compra de imóvel, aluguel residencial, reforma residencial, móveis residenciais, compra de veículos, seguros, alimentação, tratamento de saúde, vestuário, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e educação, entre outros; sendo que os três itens principais na composição do endividamento das famílias em Aracaju são alimentação (20,7%), compras de veículos 15,5% e vestuário 15%, revela-se, portanto as preferências do consumidor aracajuano ao contraírem dívidas.
Os recursos e forma utilizados nas compras a prazo são: cheques pré-datados, cheque especial, cartões de crédito, financiamento, empréstimo pessoal, carnês de lojas e outros meios. Destaque-se que o meio mais utilizado para compra a prazo pelos aracajuanos é o cartão de crédito (62,%), seguido de financiamento (17,4%) e empréstimos pessoal (9,7%).
Registre-se que as despesas que mais afetaram as dívidas dos consumidores foram: supermercados (alimentação) com 39,5%, habitação com 26,1% e educação com 19,3%. Outro dado interessante que revela o perfil do consumidor aracajuano é o tempo de comprometimento da renda familiar mensal dos consumidores com dívidas futuras; a maioria compromete entre 3 meses e 1 ano (42,6%), seguido de por mais de 1 ano (38,3%) e até 3 meses (19,1%).
Do ponto de vista do valor da dívida dos consumidores aracajuanos, a maioria (23,8%) deve na faixa de R$ 501 a R$ 1.000, nos demais extratos há uma distribuição proporcional; até R$ 500 (10,1%), de R$ 1.001 a R$ 1.500 (13,3%), de R$ 1.501 a R$ 2.000 (13,4%), R$ 2.001 a R$ 3.000 (13,3%), de R$ 3.011 a R$ 5.000 (12,3%) e acima de R$ 5.000 (13,9%).
Taxa de Consumidores com Dívidas em Atraso – percentual de consumidores que possuem dívidas vencidas e não pagas na data do vencimento. Com relação aos consumidores com dívidas em atraso, fator mais crítico para o comércio, em outubro/2011, o percentual de Aracaju foi de 24,9%, este é um índice elevado e que efetivamente prejudica a concessão de novos empréstimos e dificultam o acesso a crediário nas lojas, resolvendo este indicador, reduzindo-o a patamares próximos ao que é verificado no sistema bancário, entre 5% e 7%, teríamos uma condição de vendas no comércio mais adequada, mas a resolução desta situação depende mais do consumidor do que dos lojistas e dos bancos, é uma questão de cultura e busca de renegociações técnicas adequadas, registre-se quem em setembro/2011, o percentual ficou em 15,2%.
Os motivos que levaram os consumidores a terem dívidas em atraso foram: falta de controle financeiro (36,3%), gastos inesperados (separação, doença, etc) (25,9%), tiveram que pagar dívidas de outras pessoas (16%), está desempregado (9,6%) e esqueceu a data do pagamento (4,2%).
O tempo em que os consumidores aracajuanos possuem dívida com pagamento em atraso, é estratificado da seguinte forma: até 30 dias (48,3%), de 31 a 60 dias (39,2%), de 61 a 90 dias (5,8%) e, acima de 90 dias (6,7%).
Taxa de Inadimplência dos Consumidores – percentual de consumidores que não terão condições de pagar, na data do vencimento, dívidas a vencer no mês em curso, neste caso o percentual de Aracaju na base de outubro/2011 é de 6,5%, dentro da média observada no sistema bancário. Os homens possuem a maior taxa de inadimplência; a faixa etária com maior taxa de inadimplência é a de 18 a 24 anos, a maioria dos inadimplentes possui ensino fundamental e ganham até 5 salários mínimos.
Taxa de Comprometimento da Renda dos Consumidores – percentual da renda familiar mensal dos consumidores comprometida com dívidas. Este dado revela a capacidade de pagamento das famílias e tem relação direta entre renda e prazo dos empréstimos. Em Aracaju o percentual em outubro/2011 foi de 37%, dentro do limite prudencial de utilização de capacidade de pagamento que na minha visão, para pessoas físicas o patamar máximo não deveria ultrapassar 40%. São os homens que mais comprometem a renda, chegando a patamares médios de 38,5%; a faixa de escolaridade que mais compromete a renda também é a de ensino fundamental; a faixa de renda familiar que mais compromete a renda possui ganho de 5 a 10 salários mínimos e; a faixa etária que mais compromete a renda possui 35 anos ou mais.
Com estas informações julgo que apresentamos uma contribuição para o entendimento do perfil do consumidor aracajuano e a realidade da funcionalidade do endividamento das famílias.
(1) Economista e Presidente do BANESE
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