“Anjos da Enfermagem” emociona voluntários e pacientes

Thiago Rodrigues participou da primeira turma de voluntários (Foto: Monique Garcez)

O projeto “Anjos da Enfermagem” já mobilizou três equipes de voluntários no Estado de Sergipe. Dentre esses estudantes está Thiago Rodrigues dos Santos, conhecido como “Pingo”. Assim como os demais voluntários, ele adotou um apelido, que é repetido diversas vezes pelas crianças atendidas na oncologia do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), que durante todas as sextas-feiras recebem a visita dos estudantes.

"Pingo" ingressou no projeto em 2009, e fez parte da primeira equipe de voluntários em Sergipe. Dentro da iniciativa desenvolveu habilidades como a de fazer mágicas e a de criar arte com balões. Apesar de ter diversos afazeres e responsabilidades, o estudante conseguiu driblar todos os contratempos e se destacou no projeto ao ponto de ser elogiado pessoalmente pela fundadora dos "Anjos", e de receber um certificado de honra ao mérito pelos trabalhos prestados.

Thiago foi tão além do que era esperado pelo projeto, que continuou colaborando com os "Anjos" mesmo após o término do seu vínculo com o Instituto. E foi por continuar se destacando que ele foi convidado por Jakeline Duarte a ser instrutor do projeto, e a selecionar e formar novas turmas de voluntários. “Para mim foi um prazer imenso. Aceitei de coração e fui fazer a capacitação lá no Ceará, na sede dos "Anjos". E foi a partir do ano passado que realizei as seleções e fiquei responsável pelos núcleos de Sergipe e da Bahia”, conta.

Por se destacar no projeto, "Pingo" foi chamado para ocupar o cargo de instrutor (Foto: Arquivo Anjos da Enfermagem)

Motivado a cursar Enfermagem em 2008, durante o período em que teve câncer, "Pingo" afirma que trabalhar no projeto exige muito amor e responsabilidade. Sobre os momentos pelos quais passa após a morte de uma das crianças assistidas na oncologia, Thiago revela que é difícil, mas que tem que segurar a emoção por conta dos demais pacientes que se encontram nas enfermarias. “É uma faca de dois gumes. Você fica triste, mas é que nem diz aquela celebre frase: ‘o show não pode parar’”.

A respeito da evolução do quadro clínico dos pacientes, que é motivada pela visita dos "Anjos", "Pingo" é enfático: “pude ver essa mágica acontecendo”. E complementa a firmação com o exemplo de uma criança que em determinada ocasião, na qual os voluntários realizaram uma atividade no saguão do hospital, sentia muita dor e a equipe médica da oncologia acreditava que ela não poderia participar da ação dos "Anjos".

“Quando entramos no quarto da criança, começamos a conversar e a brincar, e perguntamos se não iria descer conosco. Ela respondeu que sim, mas que precisava de uma cadeira de rodas. Então conseguimos uma e quando fui falar com a médica para avisar que a criança manifestou a vontade de descer, ela disse que ainda não tinha prescrito o analgésico. Nisso o pessoal já estava trazendo a criança no corredor, e quando a médica viu e alertou que ainda não tinha passado o remédio, a criança respondeu que a dor já tinha passado. Para mim isso é um milagre, pois até a dor desaparece. E é por isso que, ao meu ver, este é um projeto abençoado”, relata Pingo.

Vídeo mostra "Pingo" e os demais voluntários da primeira equipe desenvolvendo uma atividade para as crianças

(Vídeo: Monique Garcez)

Compromisso

Yara Mercedes enfrenta inúmeros desafios para atuar como "Anjo da Enfermagem" (Foto: Monique Garcez)

“Você quer conversar com Yara ou Pituca?”. Este foi o questionamento feito pela acadêmica de Enfermagem, Yara Mercedes, ao iniciar a entrevista. Yara foi selecionada como voluntária em 2012, e assim como Thiago, enfrentou e ainda enfrenta inúmeros desafios para desempenhar sua função como "Anjo". "Pituca" ficou sabendo sobre o projeto antes mesmo de ser estudante do curso, e conta que conheceu o grupo de voluntários em um Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem (CBCENF). Ela, assim como a coordenadora Mônica Novais traçou o objetivo de ser um "Anjo da Enfermagem".

Yara estuda no período da manhã, mantém dois empregos durante a tarde e a noite, e para atuar como voluntária ela abre mão de parte de seu salário ao pagar a alguém para substituí-la durante as tardes de sextas-feiras, dias em que atua como "Pituca".

“Um dos critérios para poder ser "Anjo" é ter tempo. Vou confessar que não dei algumas informações na seleção, e apenas falei que tinha um emprego. E então quando fui aprovada eu disse: "meu Deus, se isso está no meu caminho, o senhor vai dar alguma solução”, comenta. E ela ainda continua: “quando entro em uma, e sei que tenho que ter compromisso, eu tenho. Não me importo em pagar alguém para ficar no meu lugar. Aperta no bolso, mas Deus é tão bom que ele me dá outros meios e faz a coisa render”, revela.

"Pituca" se diz apaixonada pelo que faz (Foto: Monique Garcez)

A voluntária se diz apaixonada pelo que faz, e diz que, por conta de sua passagem pelos "Anjos", passou a enxergar a vida de outro jeito. Sobre os demais desafios que enfrenta para continuar no projeto, a estudante conta que a família às vezes não entende o seu trabalho, mas que tudo isso é recompensado.

“Na hora que você chega na enfermaria, se monta, se maquia e deixa de ser quem você é para ser o "Anjo", tudo muda. Você sofre com a perda, mas ganha muito com os que estão ali. É um sorriso, um reconhecimento, é ouvir ‘só vou fazer algo se Pituca estiver do lado’. A criança te reconhece, o familiar te reconhece, e isso tudo compensa. É sacrificante, mas compensa e me dá mais força para continuar”, enfatiza "Pituca".

"Pituca" e outros "Anjos" cantam músicas infantis para paciente da oncologia pediátrica do Hospital de Urgência de Sergipe

(Vídeo: Monique Garcez)

Superação

Mãe de uma das crianças assistidas na oncologia pediátrica do HUSE, Karla Thaise Santos disse que o carinho dos "Anjos" contagiou não só o seu filho, como ela também. Karla conta que conheceu o trabalho dos voluntários logo na primeira semana de internação de Pedro, e que foi "paixão a primeira vista".

Karla Thaise afirma que foi contagiada pela alegria dos "Anjos da Enfermagem" (Foto: Monique Garcez)

“Achei muito maravilhoso e digno o amor que eles passam para as crianças. Meu filho logo de início estava triste, e quando encontrou com os "Anjos" começou a rir, e já havia um tempo que ele não fazia isso”, relembra Karla. Sobre como se sentia com a visita dos estudantes, a dona de casa revela que tinha a sensação de bem estar e conforto no hospital, mesmo que o ambiente não fosse bom, pois quando os "Anjos" chegavam, nem parecia que ela e o filho estavam em uma unidade de saúde. “Nós contávamos os dias e os minutos para chegar às 14h da sexta-feira e pedíamos a Deus que não acabasse a tarde”, recorda.

A respeito da evolução do quadro clínico de seu filho por conta das visitas dos voluntários, Karla ressalta que Pedro melhorou muito, e que sempre que ele encontrava com os "Anjos", queria demonstrar que estava bem. “O que eles fazem é uma mágica, pois a criança se transforma de uma forma inexplicável”, ressalta. Thaise ainda exemplifica que também era influenciada pela alegria dos "Anjos", de modo que ela esquecia dos problemas e se entregava as atividades propostas pelos estudantes. “Eu sempre fui muito tensa e preocupada, e na sexta-feira virava uma criança, pois eu dançava, corria, pintava, me soltava, esquecia de tudo e ia para casa muito mais animada”, relata.

Emocionada por relembrar estes momentos, a mãe de Pedro conta que perdeu seu filho aos 6 anos, em 2012, e faz questão de destacar que o objetivo dos "Anjos" foi alcançado, pois seu filho não faleceu de câncer e conseguiu superar todo o tratamento, que durou três anos.

“No momento em que Pedro faleceu, há quase quatro meses, foi difícil para mim. E quando contei isso para os voluntários, eles me disseram que um anjo não pode viver aqui na Terra e que os únicos que podem ficar aqui são eles”, conta Karla, afirmando que seu filho foi vitorioso. “Meu filho graças a Deus venceu a leucemia, e o propósito dele e dos "Anjos" foi vencido”.

Ainda comovida por falar sobre Pedro, Thaise afirma que os "Anjos" a encantaram pelo amor que davam a seu filho. “Era um amor gratuito e verdadeiro. Até o último momento de Pedro, eles o ajudaram a descobrir a garra que tinha, e meu filho faleceu feliz, por incrível que pareça”, acrescenta, e comenta que seu filho antes de partir lhe deixou um legado. “Ele me deixou uma grande família além da que eu já tinha, que é a família dos "Anjos da Enfermagem"”, finaliza.

Em vídeo gravado em 2010, Karla demonstra seu carinho pelos "Anjos da Enfermagem"

(Vídeo: Monique Garcez)

Por Monique Garcez

*Esta grande reportagem é fruto do Projeto Experimental de Conclusão do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, executado durante o período 2012.2.

Confira as duas primeiras partes desta grande reportagem:

Parte 1 – Anjos da Enfermagem: história de dedicação ao próximo

Parte 2 – Conheça como o ‘Anjos da Enfermagem’ se desenvolve em SE

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